Assassinatos podem ser contagiosos

by - junho 12, 2019

No dia 5 do mês de outubro de 2017 um vigia, conhecido, aparentemente normal, colocou fogo em dez crianças em uma creche em Minas Gerais. O motivo? A polícia concluiu que Damião Soares era louco e tinha obsessão por crianças. Ele planejava suicídio após o crime, mas morreu por causa dos ferimentos. A data do crime foi premeditada: no dia da morte do pai, três anos antes.
Exatos quinze dias depois em Goiânia, um adolescente de catorze anos, atira e mata dois colegas na sala de aula e deixa outros quatro feridos em estado grave. Ele atirou para matar. Sofria bullying, mas isso é o de menos por enquanto. O crime foi premeditado: o garoto confessou estar planejando tudo há dois meses, inspirado nas tragédias de Realengo e Columbine.
Deixa eu te explicar o que aconteceu em Realengo. Em 2011, um homem de 23 anos, bem vestido, entra em uma escola Municipal do bairro de Realengo, zona Oeste do Rio de Janeiro. Iria palestrar. Que tipo de palestra? Não sabemos, nem aparentemente se importaram de perguntar os professores daquela escola. De repente, o sujeito, que tinha duas armas calibre 38 começa a disparar, matando 11 crianças e deixando 13 feridas. Todas entre 12 e 14 anos. Wellington, o atirador, tinha sido aluno da escola e se suicidou após o crime.
O massacre de Columbine foi tão grande e há tanto tempo que ganhou página na Wikipédia. Descrito por muitos como “O mais sangrento tiroteio em uma escola dos EUA”, aconteceu em 20 de abril de 1999. Dois jovens, Eric e Dylan, de 16 e 17 anos, planejavam desde um ano antes um atentado que superasse o de Oklahoma City (1995), planejaram e conseguiram bombas, tanques de propano e 99 explosivos. Resultado: 15 mortos e 24 feridos.
A Universidade do Arizona, em 2015, realizou um estudo com bancos de dados de assassinatos em massa nos Estados Unidos e constataram que há um período de 13 dias entre um massacre de grandes proporções, que atinge a mídia, e outros menores. Cerca de 20 a 30% desse tipo de crime parecem ser inspirados em outros. Nos EUA ocorre um ataque de fogo a cada duas semanas, aproximadamente.
Desde sempre as pessoas almejam reconhecimento. Seja por um ideal ou por vingança, todos esses massacres têm algo em comum: chamar atenção da mídia. Geralmente os criminosos são entendidos pela sociedade como “loucos vingativos”, o que não deixa de ser verdade, mas sempre em detrimento do maior problema, o esquecimento. Quem sofre bullying só é lebrado por coisas negativas. Ninguém sofre bullying por ser bonito ou talentoso. É por isso que uma vítima de bullying se isola, passando a ter uma necessidade maior de atenção e cuidado.
O bullying não exclui o crime. Nenhum dos crimes. Todos já tinham idade suficiente para discernir o certo do errado. Também não podemos culpar a segurança das escolas. No caso de Realengo, o “palestrante” teria entrado de uma maneira mais agressiva se barrado pela segurança. E uma última e chocante semelhança: nos quatro casos acima, todos os assassinos cometeram ou pensaram em suicídio, incluindo nosso adolescente de Goiânia.
Como esse jovem vai conviver com o que fez? Será que a atitude dele inspirará outros acidentes pelo Brasil e no mundo? Como isso vai afetar a sua cidade? Como está a sua criança na escola? Ou seus alunos? Perguntar não ofende. Cuidar de nossos adolescentes também não. As escolas precisam discutir o assunto. A mídia mostra, faz seu espetáculo, o atirador tem sua fama, a vingança é publicizada aos quatro cantos… E a escola abafa. Traga o bullying para os debates, a empatia, o perdão.
Deixe o adolescente falar, não atirar.

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